ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

75. Meio Ambiente (15)




Pergunto: será que havia algum plantador de banana opinando sobre o novo código florestal durante sua elaboração? Será que havia algum homem do campo na ” RIO + 20”?
Sabem por que não havia? Porque aqueles que efetivamente trabalham não têm tempo de sobra; eles têm que cuidar do bananal, das vacas, das plantações e fazem isso 24 horas todos os dias, sem férias ou licença prêmio. Os outros, os que não têm obrigação diária, ficam pensando em como encher o saco daqueles que trabalham.

É evidente que a terra tem que ter função social. É racional que em uma nação civilizada haja uma regulamentação para o desfrute dos bem naturais. É lógico que o uso da terra tem que obedecer a um regulamento. Tudo isso é compreensível, mas o que se está vendo após o parto doloroso do novo Código Florestal é somente confusão, incertezas, decisões inexeqüíveis, dezenas de siglas completamente dispensáveis, criminalização do homem do campo como se fosse um desocupado semelhante aos que participam e elaboram esses códigos. Lamentável mais uma vez.
Vejamos: Art. 2º, § 1º  Na utilização e exploração da vegetação, as ações ou omissões contrárias as disposições desta lei são consideradas uso irregular da propriedade, aplicando-se o procedimento SUMÁRIO previsto no inciso II do artigo 275 da lei  nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973 (CPC), sem prejuízo da responsabilidade civil, nos termos do § 1º do art. 14 da lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, e das sansões administrativas civis e penais.

Conforme se pode ver nas fotos 1 e 2, todos os agricultores da Serra Gaucha, de Santa Catarina, da Serra do Mar e Mantiqueira, da região serrana do Rio e Espírito Santo, da Serra do Araripe e demais regiões serranas do Norte e Nordeste são automaticamente criminosos até prova em contrário, conforme reza o art. 4, § IX. Para se redimir do crime terão que abandonar seu trabalho e estudar o novo código para saber o significado das siglas e palavras que seguem:

APP, FLUXO GÊNICO, OCUPAÇÃO ANTRÓPICA, REGIME DE POUSIO, CONAMA, CEMA, MARISMAS TROPICAIS HIPERSALINOS, APICUM, CAR, SISNAMA, PBA, EPIA, RIMA, ZEEZOC, ZEE, CRA, RA, SINIMA, PMFS, PSS, DOF, PRA, RPPN, ITR.  

São dezoito siglas mais algumas palavras difíceis. Amigo agricultor, já imaginou se algum dia você, cansado, de sapatão enlameado e as unhas todas sujas de terra receber um fiscal que lhe diga:

O senhor está autuado e multado em oitenta mil reais porque em sua ocupação ANTROPICA o senhor não obedeceu ao FLUXO GÊNICO E PREJUDICOU O MARISMA TROPICAL HIPERSALINO. Alem do mais seu APP não está registrado no SISNAMA e nem no SINIMA. O senhor não tem registro na CAR e está em debito com a RIMA, ZEEZOC e ZEE. Teu APICUM está irregular, sem falar que você não tem DOF.

Aí você diz: Pô fui cinco vezes à CONAMA e à CEMA e o engenheiro estava de férias. Meu CRA e meu PRA estão com o contador que tem que ir à Capital para o registro no PSS, mas eu tenho que pagar a viagem e estou esperando colher e vender as batatas.

Diz o fiscal: O que! Você está plantando batatas? Cadê sua inscrição no RPPN? Você tem o RA?

Eu proporia uma inversão. Fazer um código que mostrasse com palavras inteligíveis o que o agricultor pode fazer. Somente o que ele pode fazer. E como é ele quem paga os servidores públicos, que os mesmos se deslocassem até à propriedade para fazer os acertos e as inscrições necessárias. Afinal, se ele não colher as batatas vai faltar comida para a merenda infantil.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

74. Feijão (1)





O feijão é a proteína e, no jargão do pecuarista, o arroz seria o volumoso. Para as populações mais pobres da Africa e do Brasil essa leguminosa, que atende pelo pomposo nome cientifico de Phaseolus Vulgaris, se constitui no principal alimento de consumo diário. Dependendo da variedade, em  sua composição encontram-se em torno de 17% de proteína, 47% de âmido, 7% de açúcar e dextrina e 0,8% de ácido fosfórico além, de outras substâncias.
Nosso país é o maior produtor e consumidor dessa leguminosa no mundo. Há cinquenta anos em São Paulo se consumia muito o feijão roxinho e no Rio de Janeiro, até hoje, a preferência é pelo feijão preto. Apesar da variedade do feijão consumido ter certa conotação com  o modismo ou paladar, a  realidade é bem outra. É o preço que determina a variedade que será mais consumida na maior parte dos casos. Com exceção do feijão preto relacionado definitivamente à feijoada e aos cariocas, o  mais consumido é, sem dúvida o mais barato e este, por consequencia é aquele de menor custo de produção.
Para o produtor, desde algum tempo, o feijão carioquinha, da foto acima, é o que apresenta a melhor relação custo/produção, e por isso se impôs ao mercado. Lembro que em 1994, por ocasião do plano real que livrou o Brasil da praga da inflação acelerada, o feijão custava R$0,55 o kg. Neste mês de abril passado a saca de 60 kg chegou a custar o absurdo de R$240,00!, ou seja R$4,00 o kg no atacado, chegando a quase R$6,00 no varejo. Grande parte do feijão consumido provem de plantações mecanizadas uma vez que o trabalho de colher e bater o feijão manualmente só se justifica para lavouras pequenas. Esse é o caso de plantações para consumo próprio em pequenas propriedades.
Durante mais de trinta anos eu tenho plantado feijão para consumo próprio e em nossa região a colheira do feijão da seca (safrinha), regra geral, se dá no inicio de junho. Sem dúvida é um trabalho fatigoso arrancar os pés de feijão à mão com cuidado para não romper as prováveis vagens que já estejam secas e, em seguida, levar o conjunto a um terreiro para que o sol se encarregue da secagem. Nesse final de outono, às vezes, é comum chegar uma onda fria com muita umidade, o que nos obriga a recolher todo o feijão que estava em fase de secamento para um local coberto. Nessa hora reza-se a todos os Santos para que a umidade não perdure porque o feijão, com sua palha amontoado e, às vezes, abafado, poderá embolorar ou germinar. É uma tragédia.
Se tudo der certo teremos a semente seca e pronta para ser estocada, mas se não houver um tratamento prévio  trabalhamos somente para alimentar os carunchos. Existem vários métodos para envenenar as sementes e impedir a ação dos acanthosceles obsoletus (caruncho do feijão). Durante muito tempo meu amigo Tião usava lambuzar todas as sementes com óleo e dizia ser esse um tratamento eficaz. Entretanto, vimos o povo sofrido do nordeste brasileiro armazenar suas sementes em garrafas PET, de um ano para o outro. Que excelente idéia! É evidente que não vamos armazenar uma tonelada de sementes dessa maneira. A solução serve, entretanto, para as quantidades compatíveis com o consumo familiar em pequenas propriedades e assim temos feito como na foto acima.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

73. Trator (5)




Numerosas pequenas propriedades se localizam em terrenos inclinados. A zona colonial na serra gaucha, a serra catarinense, a Mantiqueira entre outras, são regiões onde os terrenos são bastante dobrados dificultando sobremaneira o amanho da terra. A utilização de tratores com pneus, regra geral, torna inviável a aração seguindo curvas de nível. Nesses locais os tratores aram morro abaixo e sobem sem arar, gastando o dobro do tempo e deslocando os nutrientes para as baixadas. Em Brazópolis, onde os terrenos são bastante inclinados, pelo menos dois tratoristas morreram após o tombamento do trator. Os tratores mais recentes dispõem de cintos de segurança e cobertura que dizem ser a prova de tombamento, no sentido de evitar danos ao tratorista que esteja com cinto de segurança no caso de tombamento do trator.

Na foto se vê um trator no qual foi feita a abertura total da bitola para melhorar a estabilidade. A distância máxima entre as rodas traseiras que era de 2m ficou com 2,3m ficando a metade das rodas fora dos pára-lamas. Todos os tratores da classe de até 80 hp, qualquer que seja a marca, têm a mesma conformação relativamente ao seu centro de gravidade, isto  é, são muito altos em relação à sua largura, o que dificulta o trabalho em curvas de nível quando os terrenos são inclinados. Para essa tarefa melhor seria o desempenho de um trator agrícola de esteiras.

Segundo informações de uma concessionária da New Holand, a empresa estará colocando à venda tratores agrícolas de esteiras a um preço algo superior aos de pneus da mesma potência. Se outras empresas também passarem a oferecer esse tipo de máquina, com o tempo e a concorrência, os preços se tornarão convenientes e haverá, em regiões montanhosas, maior procura por esses tipos de maquinas.