ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

84. NATAL 2012





Graças ao bom Deus está acabando 2012.  Ano de eleições, de corrupção desenfreada, de hipocrisia, do fim do mundo que não houve, mas também ano no qual este pequeno blog sobre agricultura familiar chegou a marca dos 14.000 acessos com quase 900 mensais. Neste país de pouca cultura o indicador chega a ser incrível. 
Nesta última primavera consegui, finalmente, fazer germinar mais do que 80% das sementes semeadas de alcaparreiras. Fiz, também, contato com “Alcaparras Tierra del Sol” em Canellones, Uruguay, com a Beti que, em nosso vizinho país, prova a dificuldade em cultivar o vegetal.
Bem verdade que nosso trabalho no blog foi menos produtivo este ano. É que, desde fevereiro, tivermos que desviar nossa atenção deste trabalho produtivo, para cuidar da lambança havida no loteamento denominado Jardim Virginia, Guarujá, onde a parcela improdutiva da sociedade brasileira procurou ganhar dinheiro sem o suor de seus rostos. O pior é que parece estar conseguindo mostrando, com isso aos jovens, que não se ganha dinheiro honestamente, mas sim com acordos espúrios. Estamos trilhando um mau caminho, ensinando aos jovens que o trabalho honesto não é a melhor opção. Lamentável.
No mês de dezembro começam a amadurecer os figos da Índia, cuja foto mostra o fruto de cor roxa. Também colhemos algumas grumixamas, grandes e saborosas. É uma fruteira da Mata Atlântica esquecida pelos órgãos oficiais que já deveriam, há tempo, ter desenvolvido o vegetal para produção comercial.

Neste ensejo desejo aos seguidores, e a todos que acessam o blog, os melhores votos de feliz natal,  paz e prosperidade em 2013.



Di Petta, Sérgio



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

83. CÓDIGO FLORESTAL



A Reforma de Martinho Lutero visava, principalmente, a tradução da Bíblia do latim, língua que o povo não entendia, para o alemão, que todos falavam. Ele acreditava que as pessoas deveriam compreender os preceitos, as leis de Deus, não através de representantes que as interpretassem, mas lendo diretamente do Livro Santo.

Pois é, as leis do novo Código Florestal brasileiro foram definitivamente sancionadas pela nossa preclara presidente, e interferem, doravante, com as atitudes de todos nós que moramos neste belo país. Mais importante do que obedecer às leis de Deus cujo castigo pela desobediência se paga com três Ave-Marias, será obedecer ao novo Código porque as infrações se constituem em multas pesadíssimas, às vezes incompatíveis com o crime cometido e chegam até a prisão quiçá inafiançável. A Bíblia, em nosso idioma, nos ensina de maneira clara o que podemos ou não fazer, afinal foi escrito sob inspiração divina.   Já o novo Código Florestal ainda eu não sei.

Todos nós interagimos, a cada momento, com o meio ambiente e, portanto temos que saber as novas regras, os pecados e as penas, para que não tenhamos o dissabor de uma autuação por descumprimento das medidas coercitivas para salvar a ararinha azul de rabo curto. Nessas condições procurei na internet o tal Código para comprar. Todo código que se preza deve ser conciso e preciso, portanto um livrinho de poucas páginas, um opúsculo. Não achei nada mais em conta do que R$40,00 o exemplar, é verdade que dizia na oferta do produto que era um código comentado. Hum! Se for necessário comentário para ser entendido estamos fritos. Deve ter sido escrito em linguagem cifrada cujo entendimento necessita de tradução e, naturalmente, cheio de siglas. Deus nos ajude!

Inobstante, é um assunto de relevada importância, mas assim não foi entendido pelos poderes incompetentes porque, tão logo sancionada a lei, deveria o governo estar com no mínimo dez milhões de exemplares desse famigerado código para o conhecimento geral, ainda que fossem vendidos ao povo a preço de custo. Porém nem tudo está perdido. Daqui a dois anos teremos eleições para deputados e senadores.  Certamente algum deles irá mandar editar o tal código com seu, meu, nosso dinheiro e o distribuirá gratuitamente entre seus eleitores, naturalmente com sua propaganda na primeira página. Até lá todo cuidado é pouco. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

82. ALCAPARRAS (18)




Finalmente um ótimo resultado. Conforme eu havia dito na postagem precedente, o método experimental para forçar a germinação das sementes de alcaparreiras mostrava-se bastante promissor, e de fato a foto acima evidencia, de maneira cabal, que podemos obter 70 % de germinação,  e até mais, utilizando o procedimento descrito na postagem 81.  A expansão do cultivo desse condimento esbarrava na multiplicação da planta, uma vez que a dificuldade da germinação de sementes e de pegamento de estacas impedia qualquer implantação de uma plantação economica. A solução apontada de multiplicação celular ficou paralizada por falta de interesse dos orgãos oficiais de maneira que tudo isso apontava para a paralização definitiva do cultivo do condimento no país.

O impasse foi resolvido e a a foto acima demonstra que já podemos pensar em grandes plantações de alcaparreiras oriundas de multiplicação sexuada. As sementes são relativamente fáceis de serem obtidas uma vez que a planta tem abundante frutificação e os frutos contém em torno de uma centena de pequenas sementes. O metodo descrito na postagem anterior é de baixissimo custo inclusive se usarmos a perlita como primeiro substrato. Nada impede ainda experimentar o uso de vermiculita ou mesmo de um substrato comercial  asséptico para obter esse alto percentual de germinação em lugar da perlita. De qualquer maneira já está demonstrada a viabilidade da germinação e, portanto, podemos a partir de agora começar a plantar comercialmente.

É sempre bom lembrar que para a germinação será necessário tão somente água, calor e ambiente asséptico. A alimentação das plântulas nos primeiros dias será suprida pela semente. Em seguida teremos que aportar os nutrientes necessários juntamente com a água. É sempre necessário “acordar” o embrião da semente com um dos vários métodos conhecidos. Assim que a muda tiver quatro ou cinco folhinhas deve-se fazer o transplante para saquinhos de plástico (ou vasos plásticos) com um substrato permeável onde permanecerá  até a próxima primavera quando será plantada no lugar definitivo. Acresce lembrar ainda que a melhor época para a semeadura é, e será sempre, o final do inverno para que a natureza ajude nosso esforço em fazer germinar as sementes. A semeadura em outras épocas tambem é possivel mas o resultado não será o mesmo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

81. ALCAPARRAS (17)



Eu tenho alcaparreiras produzindo há mais de 10 anos e a produção, por planta, é aquela esperada e que consta no livro “O cultivo de alcaparreiras”. Contudo, a ampliação da cultura para que a colheita possa representar um bem econômico tem sido freada pela dificuldade de multiplicação do vegetal. Como já foi largamente explicado nos textos anteriores,  a multiplicação sexuada (através de sementes) tem desanimado muita gente interessada no cultivo desse condimento e com razão. O percentual de germinação é baixíssimo e as poucas plantinhas que nascem precisam de muitos cuidados nos primeiros meses. 
Bem, tudo isso já era do conhecimento geral e a solução seria a multiplicação celular por divisão meristemática, técnica existente há muitos anos mas fora do alcance do pequeno produtor. Não é que seja uma técnica muito sofisticada, pelo contrário. Há necessidade de um local asséptico e alguns equipamentos próprios para a divisão do meristema da planta, que deve ser escolhida pela sua sanidade e produção.  Na Argentina, em Santiago del Estero, um médico, proprietário de uma pequena propriedade, investiu, talves uns 20.000 dólares, e já está produzindo e exportando mudas para America Latina. Lá ele não conseguiu um apoio governamental. Aqui no Brasil, apesar de eu ter mandado meu livro para a Embrapa e secretários de agricultura e outros órgãos, não tive, sequer, uma resposta de muito obrigado. Meu contato com unidades de desenvolvimento de agricultura de excelência, também não resultou, devido a falta de objetividade das pessoas envolvidas que não entenderam que servidor público está sendo pago para servir o Brasil e não para servir-se dele. Ultimamente recebi um telefonema de um professor de uma universidade se dizendo interessado no assunto. Coloquei-me a disposição e a conversa morreu aí. Como a classe estava em greve, julguei que esse fosse o motivo da ausência de uma delicada resposta. 
Na falta de apoio dos orgãos pagos por todos brasileiros para desenvolver nossa agricultura, estou continuando, sozinho, a pesquisar meios de fazer germinar, a contento, as sementes de  alcaparreiras e, creio, obtive uma sensível melhora no percentual de germinação com o procedimento seguinte: Na foto 1 vemos um recipiente plástico com tampa hermética. Preenchemos até a metade com perlita, produto de origem vulcânica asséptico e com  propriedades de reter umidade. (talves possa ser usado vermiculita). Sobre esse substrato coloquei sementes de alcaparreiras, reguei de maneira que alguma água restasse no fundo do recipiente, após foi colocada tampa hermética. O conjunto foi colocado em um local coberto com material transparente onde a caixa recebe bastante insolação. O conjunto funciona mais ou menos assim: Durante o dia a caixa se aquece e a água evapora e se deposita na tampa formando gotículas. Quando as gotículas se avolumam caem sobre as sementes umidecendo-as. Enfim, calor, umidade e ambiente asséptico. 
A semeadura foi feita no mês de julho e foi utilizada a técnica de manter as sementes na geladeira por 30 dias antes de semeá-las. Na foto 2 vemos a eclosão das primeiras sementes quando foi feita a foto. Hoje são muitas e já apresentam as primeiras folhinhas. Naturalmente há necessidade de seguir e finalizar a experiência que me parece bastante promissora. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

80. CUPIM (EUCALIPTO)




Quem sai de São Paulo em direção ao Rio pela rodovia Airton Senna verá, principalmente no lado direito, pastos repletos de cupinzeiros como se fossem de propósito plantados (foto 1). São centenas e, em alguns lugares, milhares, quase um em cada metro quadrado. São terrenos utilizados para a criação de gado durante muitos anos, cujo solo, apiloado pelas patas dos animais, não vê um arado há muito tempo. Em decorrência do endurecimento do solo e o ataque dos cupins a vegetação, às vezes braquiária, cresce mofina e as águas das chuvas, sem poder penetrar no solo duro, escorre rapidamente para as vossorocas.

Grandes extensões sem árvores. Nenhum bosque onde possam sobreviver alguns tamanduás, tão necessários para fazer o controle dos cupins que se multiplicam de uma forma assombrosa. Esses pastos estão, com certeza, abandonados ou subutilizados e a prova maior é o grande número de cupinzeiros. Um pasto cuidado necessita, de tempos em tempos, de um subsolador para afofar o terreno e permitir a penetração das águas pluviais e nessa hora, certamente, os cupinzeiros seriam destruídos. Os cupins vivem das raízes das plantas.
Quem pretender iniciar um reflorestamento com eucaliptos não deverá se preocupar somente com formigas saúvas; estas cortam a parte aérea das mudinhas. Os cupins devoram as raízes. Para minimizar o ataque de cupins durante a plantação é necessário colocar, na cova, juntamente com o adubo de enraizamento, um pouco de cupincida em pó. Apesar desse cuidado às vezes poderá acontecer de alguma mudinha secar logo no primeiro mês após a plantação. Pode ocorrer também um desenvolvimento lento, não acompanhando o ritmo das outras plantas e isso se deve ao ataque de cupins. Na foto 2 temos uma muda recém plantada seca. Ao arrancá-la da terra veio junto um cupim agarrado a sua pequena Raiz. A foto 3 mostra a raiz de uma planta com três meses fortemente atacada por cupins que roeram completamente suas raízes.

As perdas decorrentes do ataque de cupins, em um reflorestamento com eucaliptos, podem ser assaz relevantes se levarmos em conta as árvores que tem seu crescimento retardado por ataque de cupins em suas raízes. Esses vegetais não chegam a morrer, mas têm seu desenvolvimento retardado em relação aos que lhe estão próximos perdendo, portanto, a insolação e, com a diminuição da fotossíntese permanecem vivos, mas não se desenvolvem.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

79. ÁGUA (1)


             


Há trinta e cinco anos cuido de uma pequena propriedade rural. O homem do campo sabe que propriedade sem água nada vale. Nós, humanos, precisamos de água para sobreviver. Sem água não se cria gado; a imensa maioria dos vegetais não prospera sem umidade. Enfim, água é sinônimo de vida. Venho, durante esse tempo, estudando a variação de temperatura bem como a freqüência das chuvas que, naturalmente, são responsáveis pelo nível do lençol freático e até pelas águas mais profundas, artesianas.

A casa sede, estabelecida a 100 anos fica, como é natural, próxima a uma pequena mina d’água. Em todos esses longos anos ela nunca deixou de fornecer o fluido da vida em quantidade compatível com o gasto normal de uma família que, naqueles tempos, era numerosa. Servia também para matar a sede de porcos, galinhas e algum gado de leite. Na estação das chuvas jorrava de um cano de duas polegadas. Na pior das secas ainda fornecia quase meia polegada de água. Nos últimos 15 anos, porem, o regime pluvial tornou-se irregular, às vezes com pouca chuva invernal e quase nenhuma no início da primavera, obrigando o agricultor a iniciar o plantio do milho ou feijão, não mais em setembro/outubro, mas sim no fim de novembro. Esse não é, todavia, o principal motivo do fracasso da mina d’água que durante tanto tempo abasteceu a propriedade.

As águas do lençol sub-superficial, via de regra, são responsáveis pelas minas d’água existentes e essa água é, a cada estação chuvosa, reposta para manter o fornecimento das fontes. Um manancial poderá secar por três motivos:
1. Por diminuição acentuada das precipitações pluviais (menos plausível).
2. Porque houve um aprofundamento da fonte e está sendo retirada mais água da que, normalmente, a fonte poderia fornecer.
3. Porque as terras a montante estão impermeabilizadas e não permitem a penetração das águas das chuvas que iriam repor o nível freático.

Estamos no final de agosto e a foto nº 1 mostra que a fonte secou, isto é, o nível do lençol freático tornou-se mais baixo do que o ponto de saída do manancial.  A foto 2 mostra o principal motivo da ocorrência. Vemos ali uma pastagem em declive, muito apiloada pelos cascos do gado. Os cupinzeiros são indicativos de que há mais de 10 anos não é feita uma subsolagem ou aração em curvas de nível para possibilitar a penetração das águas. Do jeito como está toda a água das chuvas correrá rapidamente, inclusive pelos caminhos deixados pelo gado, em direção ao riacho mais próximo. Mesmo durante as chuvas continuadas pouca água penetrará no solo endurecido. A foto 3 nos mostra uma área reflorestada, ainda que seja com eucalipto, onde a braquiária vegeta em pleno inverno porque sofre menos com a inclemência do calor solar e dispõe de mais umidade. Qualquer área reflorestada retém mais umidade e facilita sua penetração no solo.

Outro motivo que contribui para a diminuição das águas do sob-solo é seu represamento porque, se por um lado facilita a penetração de água no solo, por outro promove uma exacerbada evaporação e não sei dizer se a quantificação desse balanço beneficia ou prejudica o nível das águas freáticas.   


sexta-feira, 27 de julho de 2012

78. GALPÃO SOMBREADO (1)






Toda pequena propriedade rural pode e deve ter uma horta para produção de legumes e hortaliças necessárias à alimentação. Facilmente se produz tomates, berinjelas, pimentões, cenouras, e todas as verduras de folhas. È tambem uma oportunidade para produzir alimentos sem agrotóxicos ou, se necessário, usando defensivos naturais como calda de fumo em corda com alcool e detergente. Ocorre que moramos em um país tropical onde o sol, as chuvas torrenciais, inclusive de granizo, e tambem os milhares de insetos e pásssaros poderão danificar completamente nossa plantação. Por esse motivo de uns tempos para cá tem sido muito utilizado cobrir inteiramente a horta com tela sombreadora. Na periferia de São Paulo, no chamado cinturão verde, é cada vez maior o número de galpões cobertos utilizando estruturas de aço feitas por firmas especializadas. Muitas vezes esses galpões são primeiramente cobertos com plástico transparente (mulshing) e em seguida sombreados. Dessa forma os canteiros ficam completamente livres das chuvas e o aporte de agua é realizado de acordo com a necessidade dos vegetais. Algumas instalações poderão ser somente cobertas com tela sombreadora as quais podem barrar 25, 50 ou 75 por cento da insolação. Entretanto as chuvas continuarão a castigar a plantação, porem peneirada pela tela, com certeza ficará livre do granizo.

O pequeno produtor que não tiver acesso a empresas profissionais que executem esses galpões, ou aqueles que queiram cobrir a horta sem gastar muitor dinheiro, poderão fazer facilmente um galpão de dimenções 5,60x18,0m, ou seja aproximadamente 100m². Na foto 1 temos uma visão geral onde a seta amarela aponta para o acabamento de bambu nas laterais. Esse acabamento reforçado foi necessário devido aos cachorros que, sem motivo aparente, rasgavam a tela, mas tambem por motivos economicos. A foto 2 mostra a armação feita de eucalipto. Como a tela terá que ser bem esticada, as duas estremidades terão que ser reforçadas, inclusive com mãos francesas de apoio, conforme se vê na foto 1.

A cada 3 metros colocaremos de um lado e do outro moirões de cerca, reforçados, de 2,20m, enterrados 0,40m. Conforme se vê na foto 3, na extremidade do moirão se faz um furo, parcial, com 30°(mais ou menos), de forma a poder encaixar 0,30m de cano galvanizado de ½ polegada. Veja a foto 3. Nesse cano, se insere 6m de uma barra de ferro de construção de ½ polegada. Ao envergar a barra ela será colocada tambem do outro lado, formando uma curva (foto 2). Longitudinalmentre amarramos o conjunto com arame de aço desses usados em cerca paraguaia ou outro arame de igual espessura. Sobre essa montagem se estica a tela sombreadora. Em uma das extremidades se faz uma porta telada. Os materiais usados são: tela sombrite (50%), arame, moirões, esteios de eucalipto de uns 0,18m de diametro, grampo para cerca, ferro de construção de ½ , pedaços de cano galvanizado de½ polegada, pregos, grampos para cerca e bambus.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

77. Gramados (1)




Em 1966 comecei a construir casas na praia do Pernambuco, Guarujá (SP), e era usual fazer um jardim gramado. Na época falava-se de grama batatais e grama São Carlos, que se diferenciavam pela largura das folhas. Não era fácil, como hoje, se conseguir comprar grama em tapetes. O que havia no mercado eram placas de grama que se ajeitava no terreno cobrindo, posteriormente, com terra adubada. Muitas vezes a grama vinha com a praga tiririca, de difícil ou impossível eliminação. Como os terrenos na região eram arenosos, se fazia necessário uma grossa cobertura de terra sem o que a grama, absolutamente, não vegetava bem.
Em 1977 levei o costume de plantar e cuidar de gramados para Brazópolis, MG, onde cuido de quase um hectare de gramado.


A região é bastante ondulada e o gramado, naturalmente, não é plano o que dificulta bastante o corte da grama. Alem disso chove bastante na primavera/verão e nesses meses é indispensável cortar a grama quase três vezes ao mês, sem dúvida um trabalho e tanto. Também é necessário retirar a tiririca e outras pragas que se estabelecem no gramado, principalmente no verão, o que requer o trabalho de uma pessoa somente para esse serviço.

Há três anos levei algumas mudas de grama esmeralda e plantei no meio da grama batatais já estabelecida. Coloquei também algumas mudas em uma escada de terra que dá acesso ao pomar. Aconteceu uma coisa que, sinceramente, eu não esperava. Na foto 1 se vê a grama de folha estreita invadindo e matando a grama batatais. Na foto 2 se vê a escada totalmente coberta pela nova grama. A grama esmeralda invadiu e aniquilou a grama de folha larga e por onde se espalhou, nascem pouquíssimas pragas. Para minha alegria trata-se de uma gramínea de crescimento vertical lento, pelo menos em minha região, o que resulta em uma diminuição do trabalho em mantê-la cortada.
É uma grama mais bonita e macia, uma verdadeira maravilha. Eu aconselho sua utilização para quaisquer tipos de gramados.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

76. Eucalipto (3)





O eucalipto citriodora tem esse sobrenome porque os perfumes de seus óleos aromáticos recendem a frutas cítricas, entretanto mudou de nome. Agora é uma Corímbia, não se hibrida com os eucaliptos, mas suas características muito se aproximam. São parentes próximos. Seu fuste, ramos e folhas se igualam. A madeira é densa e resistente e apesar de variações cromáticas tem a aparência do jacarandá mineiro. Inicialmente cultivado para extração do óleo de suas folhas, muito usado em saunas, agora tem sido plantado também para substituir a peroba na construção de telhados. Não é vegetal de crescimento rápido como o eucalipto híbridado com o grandis, mas aos 20 a 25 anos seu DAP (diâmetro na altura do peito) pode chegar a 1,80m. O mais importante, porém é que possibilita o corte de vigas e caibros de grandes comprimentos sem torções ou empenamentos.

O produtor rural, pequeno ou grande, sentindo a escassez de madeiras de nossa reserva natural procura, avidamente, uma espécie que possa substituí-las. Fala-se no guanandi, excelente como substituto do cedro ou do mogno, entretanto como se trata de vegetal de nossa flora, é preciso muito cuidado para investir nesse reflorestamento. Lembrem-se do descendente de japoneses que plantou mogno, há trinta anos, para custear a universidade da neta e depois foi proibido de cortá-los. Os débeis mentais continuam atrapalhando o desenvolvimento do país. O melhor é plantar eucalipto (corímbia) que é uma espécie exótica.

Algumas madeiras de nossa flora são atacadas por brocas que, às vezes, atacam também árvores exóticas. Os vegetais se defendem como podem, mas se a broca se infiltrar no cerne e abrir galerias a madeira tornar-se-á imprestável para a indústria moveleira. O plátano, madeira muito utilizada na Europa e Norte America, na região do sul de Minas Gerais é altamente atacada pela broca que acaba inutilizando a madeira.

Até onde eu sei os eucaliptos comumente plantados em nossa região não são sensíveis a essa praga, exceto a Corímbia. O inseto alado coloca seus ovos até alturas de dois a três metros e a lagarta resultante perfura o ebúrneo. Foto 1. Não sei, ainda, se chega ao cerne, mas a árvore se defende vertendo a seiva que coagula em contato com o ar trancando o orifício. Algum tempo depois o ferimento cicatriza. Não tenho encontrado sinais de perfuração nas toras de citriodora desdobradas, mas acho que é necessário um estudo mais aprofundado para constatar os efeitos do ataque do inseto. Em experiência de prospecção à profundidade dos furos, na maioria dos casos, a perfuração não passou de 1 cm. Entretanto encontrei uma perfuração com 5 cm mas que estava sendo atacado pela abelha arapuá e a seiva, muito liquefeita, não conseguia coagular. Tudo indica, salvo melhor estudo, que o ataque se restrinja a casca.









quinta-feira, 28 de junho de 2012

75. Meio Ambiente (15)




Pergunto: será que havia algum plantador de banana opinando sobre o novo código florestal durante sua elaboração? Será que havia algum homem do campo na ” RIO + 20”?
Sabem por que não havia? Porque aqueles que efetivamente trabalham não têm tempo de sobra; eles têm que cuidar do bananal, das vacas, das plantações e fazem isso 24 horas todos os dias, sem férias ou licença prêmio. Os outros, os que não têm obrigação diária, ficam pensando em como encher o saco daqueles que trabalham.

É evidente que a terra tem que ter função social. É racional que em uma nação civilizada haja uma regulamentação para o desfrute dos bem naturais. É lógico que o uso da terra tem que obedecer a um regulamento. Tudo isso é compreensível, mas o que se está vendo após o parto doloroso do novo Código Florestal é somente confusão, incertezas, decisões inexeqüíveis, dezenas de siglas completamente dispensáveis, criminalização do homem do campo como se fosse um desocupado semelhante aos que participam e elaboram esses códigos. Lamentável mais uma vez.
Vejamos: Art. 2º, § 1º  Na utilização e exploração da vegetação, as ações ou omissões contrárias as disposições desta lei são consideradas uso irregular da propriedade, aplicando-se o procedimento SUMÁRIO previsto no inciso II do artigo 275 da lei  nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973 (CPC), sem prejuízo da responsabilidade civil, nos termos do § 1º do art. 14 da lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, e das sansões administrativas civis e penais.

Conforme se pode ver nas fotos 1 e 2, todos os agricultores da Serra Gaucha, de Santa Catarina, da Serra do Mar e Mantiqueira, da região serrana do Rio e Espírito Santo, da Serra do Araripe e demais regiões serranas do Norte e Nordeste são automaticamente criminosos até prova em contrário, conforme reza o art. 4, § IX. Para se redimir do crime terão que abandonar seu trabalho e estudar o novo código para saber o significado das siglas e palavras que seguem:

APP, FLUXO GÊNICO, OCUPAÇÃO ANTRÓPICA, REGIME DE POUSIO, CONAMA, CEMA, MARISMAS TROPICAIS HIPERSALINOS, APICUM, CAR, SISNAMA, PBA, EPIA, RIMA, ZEEZOC, ZEE, CRA, RA, SINIMA, PMFS, PSS, DOF, PRA, RPPN, ITR.  

São dezoito siglas mais algumas palavras difíceis. Amigo agricultor, já imaginou se algum dia você, cansado, de sapatão enlameado e as unhas todas sujas de terra receber um fiscal que lhe diga:

O senhor está autuado e multado em oitenta mil reais porque em sua ocupação ANTROPICA o senhor não obedeceu ao FLUXO GÊNICO E PREJUDICOU O MARISMA TROPICAL HIPERSALINO. Alem do mais seu APP não está registrado no SISNAMA e nem no SINIMA. O senhor não tem registro na CAR e está em debito com a RIMA, ZEEZOC e ZEE. Teu APICUM está irregular, sem falar que você não tem DOF.

Aí você diz: Pô fui cinco vezes à CONAMA e à CEMA e o engenheiro estava de férias. Meu CRA e meu PRA estão com o contador que tem que ir à Capital para o registro no PSS, mas eu tenho que pagar a viagem e estou esperando colher e vender as batatas.

Diz o fiscal: O que! Você está plantando batatas? Cadê sua inscrição no RPPN? Você tem o RA?

Eu proporia uma inversão. Fazer um código que mostrasse com palavras inteligíveis o que o agricultor pode fazer. Somente o que ele pode fazer. E como é ele quem paga os servidores públicos, que os mesmos se deslocassem até à propriedade para fazer os acertos e as inscrições necessárias. Afinal, se ele não colher as batatas vai faltar comida para a merenda infantil.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

74. Feijão (1)





O feijão é a proteína e, no jargão do pecuarista, o arroz seria o volumoso. Para as populações mais pobres da Africa e do Brasil essa leguminosa, que atende pelo pomposo nome cientifico de Phaseolus Vulgaris, se constitui no principal alimento de consumo diário. Dependendo da variedade, em  sua composição encontram-se em torno de 17% de proteína, 47% de âmido, 7% de açúcar e dextrina e 0,8% de ácido fosfórico além, de outras substâncias.
Nosso país é o maior produtor e consumidor dessa leguminosa no mundo. Há cinquenta anos em São Paulo se consumia muito o feijão roxinho e no Rio de Janeiro, até hoje, a preferência é pelo feijão preto. Apesar da variedade do feijão consumido ter certa conotação com  o modismo ou paladar, a  realidade é bem outra. É o preço que determina a variedade que será mais consumida na maior parte dos casos. Com exceção do feijão preto relacionado definitivamente à feijoada e aos cariocas, o  mais consumido é, sem dúvida o mais barato e este, por consequencia é aquele de menor custo de produção.
Para o produtor, desde algum tempo, o feijão carioquinha, da foto acima, é o que apresenta a melhor relação custo/produção, e por isso se impôs ao mercado. Lembro que em 1994, por ocasião do plano real que livrou o Brasil da praga da inflação acelerada, o feijão custava R$0,55 o kg. Neste mês de abril passado a saca de 60 kg chegou a custar o absurdo de R$240,00!, ou seja R$4,00 o kg no atacado, chegando a quase R$6,00 no varejo. Grande parte do feijão consumido provem de plantações mecanizadas uma vez que o trabalho de colher e bater o feijão manualmente só se justifica para lavouras pequenas. Esse é o caso de plantações para consumo próprio em pequenas propriedades.
Durante mais de trinta anos eu tenho plantado feijão para consumo próprio e em nossa região a colheira do feijão da seca (safrinha), regra geral, se dá no inicio de junho. Sem dúvida é um trabalho fatigoso arrancar os pés de feijão à mão com cuidado para não romper as prováveis vagens que já estejam secas e, em seguida, levar o conjunto a um terreiro para que o sol se encarregue da secagem. Nesse final de outono, às vezes, é comum chegar uma onda fria com muita umidade, o que nos obriga a recolher todo o feijão que estava em fase de secamento para um local coberto. Nessa hora reza-se a todos os Santos para que a umidade não perdure porque o feijão, com sua palha amontoado e, às vezes, abafado, poderá embolorar ou germinar. É uma tragédia.
Se tudo der certo teremos a semente seca e pronta para ser estocada, mas se não houver um tratamento prévio  trabalhamos somente para alimentar os carunchos. Existem vários métodos para envenenar as sementes e impedir a ação dos acanthosceles obsoletus (caruncho do feijão). Durante muito tempo meu amigo Tião usava lambuzar todas as sementes com óleo e dizia ser esse um tratamento eficaz. Entretanto, vimos o povo sofrido do nordeste brasileiro armazenar suas sementes em garrafas PET, de um ano para o outro. Que excelente idéia! É evidente que não vamos armazenar uma tonelada de sementes dessa maneira. A solução serve, entretanto, para as quantidades compatíveis com o consumo familiar em pequenas propriedades e assim temos feito como na foto acima.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

73. Trator (5)




Numerosas pequenas propriedades se localizam em terrenos inclinados. A zona colonial na serra gaucha, a serra catarinense, a Mantiqueira entre outras, são regiões onde os terrenos são bastante dobrados dificultando sobremaneira o amanho da terra. A utilização de tratores com pneus, regra geral, torna inviável a aração seguindo curvas de nível. Nesses locais os tratores aram morro abaixo e sobem sem arar, gastando o dobro do tempo e deslocando os nutrientes para as baixadas. Em Brazópolis, onde os terrenos são bastante inclinados, pelo menos dois tratoristas morreram após o tombamento do trator. Os tratores mais recentes dispõem de cintos de segurança e cobertura que dizem ser a prova de tombamento, no sentido de evitar danos ao tratorista que esteja com cinto de segurança no caso de tombamento do trator.

Na foto se vê um trator no qual foi feita a abertura total da bitola para melhorar a estabilidade. A distância máxima entre as rodas traseiras que era de 2m ficou com 2,3m ficando a metade das rodas fora dos pára-lamas. Todos os tratores da classe de até 80 hp, qualquer que seja a marca, têm a mesma conformação relativamente ao seu centro de gravidade, isto  é, são muito altos em relação à sua largura, o que dificulta o trabalho em curvas de nível quando os terrenos são inclinados. Para essa tarefa melhor seria o desempenho de um trator agrícola de esteiras.

Segundo informações de uma concessionária da New Holand, a empresa estará colocando à venda tratores agrícolas de esteiras a um preço algo superior aos de pneus da mesma potência. Se outras empresas também passarem a oferecer esse tipo de máquina, com o tempo e a concorrência, os preços se tornarão convenientes e haverá, em regiões montanhosas, maior procura por esses tipos de maquinas.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

72. Meio Ambiente (14)




As pequenas propriedades são responsáveis por 40 % da produção brasileira de alimentos, principalmente aqueles cuja cultura exige o olho do dono como, por exemplo, as hortaliças as batatas e as frutas, etc. O novo código florestal, tão esperado, pode ser considerado o “parto da montanha”. Prolixo, obscuro e inexeqüível transformou os produtores familiares em algozes do meio ambiente e criminosos. Lamentável.

A história nos ensina que se as cidades acabarem, o campo sobreviverá. Se o campo deixar de produzir, as cidades morrerão. Já era de se esperar que nada de racional poderia vir a luz de um Congresso abalado por ondas de corrupção entre seus membros. Ocorre lembrar também que tal Código reflete, em muitos pontos, os pensamentos de ambientalistas teóricos que se quer têm idéia de como se desenvolve o trabalho no campo.

O disciplinamento florestal de 1965, que não era de todo ruim, não foi compreendido pelos proprietários por total falta de publicidade e absoluta ausência de fiscalização. Não sei se os Ilustres Senadores sabem, mas o país tem 8 500 000 km², e uma diversidade continental. Nenhuma legislação, nesse caso, poderá ter essa abrangência. Vamos aos fatos. Artigo 4º, parágrafo IX. “No topo dos morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de cem metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação, sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação.”

Quem redigiu tal besteira, com certeza, acredita que a vaca produz leite em pó enlatado e nunca pisou descalço no mato. Eu pergunto: na prática, como será fiscalizada e verificada a obediência desse parágrafo? Bem, não é qualquer funcionário que saberá medir esses ângulos e cotas. Os pequenos proprietários, certamente, não saberão. Serão necessários pelo menos dois funcionários mais o motorista para qualquer fiscalização.  Na melhor das hipóteses essas três pessoas poderão fiscalizar 40 km². Como o país tem 8 500 000 km²,  concluímos que serão necessárias 212 500 equipes que perfazem 637.500 homens funcionários públicos, mais carros e equipamentos de topografia.  Considerando as férias, as faltas abonadas, as ausências por casamento e óbito, as licenças prêmio e as festinhas de aniversário, deveremos prever mais 30% de pessoal e somando vem: 637.500x1,3= 828.750 funcionários.  Esses fiscais deverão ganhar bem para não ficarem sujeitos a vender facilidades. Suponhamos R$2000,00 ao mês que, com toda a carga tributária atingirá os R$4000,00 cada funcionário.

Somente a fiscalização do parágrafo IX do artigo 4 custará ao povo brasileiro a bagatela de R$34000000000,00 (trinta e quatro bilhões de reais). Evidente que nada será feito além de ações esporádicas motivadas por denuncias, em geral anônimas, feitas por algum desafeto. Como absolutamente nenhum proprietário (ou possuidor) saberá o que fazer se quedará inerte. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

71. Meio ambiente (3)


Toda e qualquer votação em nosso Congresso se resume, no mais das vezes, em uma demorada novela. A baixa qualificação de senadores e deputados, a troca de favores e a falta de patriotismo transformam, sempre, qualquer assunto em negociata.
Todavia, leis decretos e regulamentos têm sempre uma coisa em comum: a prolixidade. Exemplo maior está em nossa Constituição, de extensão inconcebível e abrangência impossível, discute-se ainda hoje a regulamentação de muitos incisos e parágrafos.
Essa necessidade mórbida do brasileiro querer disciplinar cada detalhe revela, claramente, a desconfiança que temos nos agentes fiscalizadores das leis, mas principalmente a personalidade esperta do povo brasileiro que a cada passo inventa maneiras de burlar a legislação.  Esse procedimento está transformando as cidades brasileiras em enormes favelas onde se fiscaliza com todo o rigor o corte de um pé de coquinho do brejo, mas nem se cogita de proibir o lançamento de toneladas de esgoto sanitário em córregos e rios.
Não é diferente o que acontece em nosso campo. Preocupados em penalizar quem persegue uma ararinha azul de rabo curto, esquecem-se dos assuntos fundamentais, ou por outra, tais assuntos ficam fazendo parte de um conglomerado de regras e penalizações como se tivessem o mesmo peso para a proteção do lugar em que vivemos. O regramento fundamental e necessário  que deveria orientar o desfrute de nossos recursos naturais fica igualado e escondido em meio a mais do que uma centena de artigos e parágrafos sem importância.
Simplifiquemos:
1.  Temos que primeiramente proteger os recursos hídricos ou vamos morrer de sede. Mananciais, córregos e rios deverão ser protegidos por matas ciliares cuja extensão precisará ser proporcional à importância do fluxo de água, mas principalmente calculada levando em conta a bacia de contribuição para que não ocorram enchentes decorrentes de chuvas de prazo de recorrência de 40 anos, quando casas, vidas e plantações são carregadas pela enxurrada.
2. Os animais terrestres, homens incluídos, têm que entender que somente estão vivos porque existe vegetais, parte essencial da cadeia alimentar. Os vegetais, especialmente os de grande porte, são responsáveis também pela manutenção do solo, preservação das águas subterrâneas e armazenamento do excessivo calor solar em forma de celulose, o que ameniza nosso clima. Sem as árvores teríamos um incremento substancial na temperatura diurna e diminuição ou desaparecimento da umidade, portanto cessação das chuvas.
A diversidade vegetal é importante também para o equilíbrio ecológico cuja destruição acarretará a sobrevivência exacerbada da fauna e flora microscópica, praga que já vem atacando nossas lavouras. Hoje é usual protegermos nossas plantações com venenos cada vez mais fortes os quais, aos poucos, nos estão intoxicando. Esse é um motivo muito forte para exigirmos que cada propriedade rural maior do que 1 hectare deixe 20% em mata natural distribuída de maneira que as lavouras fiquem descontinuadas. Esse percentual nada tem a ver com aquele das matas ciliares.
Ainda sobre o assunto, caso o proprietário rural obedeça à lei, deixando os percentuais devidos de mata e proteção dos mananciais, deverá ficar livre para manejar o restante de sua propriedade sem intervenção de quem quer que seja, isto é, se tiver um pé de qualquer coisa que esteja em extinção e que nasceu fora dos percentuais estabelecidos, se não puder ser transplantado, a critério do proprietário, para as áreas de preservação, não haverá sansão no caso de erradicação. (continua)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

70. ALCAPARRAS (16)





Entre animais e vegetais existem aqueles mais férteis e os que são menos férteis. Ratos e coelhos são famosos pela alta taxa de reprodução. Entre as cactáceas, as opuntiae constituem exemplo de fertilidade; um pedaço de caule jogado de qualquer forma no chão enraíza rapidamente. As alcaparreiras estão na outra ponta, pelo menos quando se fala da multiplicação desse arbusto fora de seu habitat.
A reprodução sexuada tem sido difícil uma vez que o percentual de germinação fica abaixo dos 10% (considerando também a morte nos primeiros meses após a germinação), taxa que inclui as sementes comerciais de origem italiana e que certificam 60%! Naturalmente foram experimentados os métodos conhecidos para “despertar” as sementes.
Por esse motivo preconizamos a multiplicação celular via divisão miristemática. Este ano, entretanto, faremos a experiência de enraizar micro ramos herbáceos utilizando como enraizador simplesmente uma calda feita com raízes de tiririca.
Quem sabe o problema da baixíssima germinação não estaria vinculado à colheita das sementes. Os frutos maduros se abrem mostrando as sementes ainda com coloração clara, talvez não totalmente prontas. Uma substancia inicialmente consistente as envolve e que em seguida se torna gelatinosa. Tão logo os frutos se abrem as formigas já começam a remover o material que envolve as sementes, levando-as em seguida para o formigueiro. (foto 1) Temos que agir mais rápidos do que elas!
A foto 2 mostra frutos completamente esvaziados. Se deixarmos amadurecer suficientemente as sementes servirão de alimento às formigas. Se as retirarmos antes, poderão não estar prontas e, portanto, não germinarão. Por isso iremos protegê-las com sacos de papel para que permaneçam na planta por mais alguns dias. Veremos o que resulta.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

69. ALCAPARRAS (15)



FOTO 1

Este ano foi um ano atípico pois as alcaparreiras produziram botões florais deste agosto até este mês de abril continuamente. Quem leu o livro “O cultivo de alcaparreiras” sabe que esse fenomeno já ocorreu em 2006/07 mas, como regra, a produção se restringe a três meses e meio, que é o que acontece na Itália. Vejam que não realizei nenhuma poda de frutificação.
Quando estive em Pantelleria (Sicilia I.) o diretor de uma cooperativa produtora de alcaparras me informou que o ciclo produtivo do vegetal era de três a quatro meses. Eu, brincando, lhe disse: já imaginou se no Brasil, outro clima e latitude diversa, conseguirmos colher alcaparras o ano todo?! Será que chegaremos lá?
Estou a quinze anos pesquizando alcaparreiras e tenho notado comportamentos inusitados. Este ano as borboletas praticamente deixaram de colocar ovos no anverso das folhas. Sabe-se lá o motivo.
Neste final de floração deixei de colher os botões florais para obter as desejadas sementes. A foto mostra muitos frutos. Se as formigas deixarem, este ano a colheita de sementes será farta.

sexta-feira, 23 de março de 2012

68. Orquídeas (1)




Não é que seja fácil escrever sobre orquídeas quando estamos vendo o pipocar da mediocridade e ensaio de estelionato que está acontecendo no Jardim Virginia, Guarujá. Entretanto é uma forma de profilaxia do cansado miocardio. A natureza é bela, melhor dizendo, é fantástica com uma restrição: o bicho homem. Essa figura egocentrica que se diz racional, em certos casos, não vale um pé de couve.
As orquídeas são eternas, como os deuses gregos. O homem se putrefaz antes dos cem anos, com raríssimas exceções, cujo exemplo maior seria Matusalém, figura bíblica de destaque. Vejam na foto 1 as cores, a perfeição de formas, a elegância e evolução das linhas. Nada que tenha sido feito pela mão do homem se lhe compara.
A foto 2 mostra o vegetal que anda, sempre em direção à luz buscando o astro luminoso. Seu caminhar seguro nos ensina que já tem nove anos e muitos mais terá enquanto seu apôio viver, porque  epifita. Desde que haja luz, ar, um pouco de umidade e um apoio vegetal a orquídea caminhará até quando aprouver a Deus, seu criador.

sexta-feira, 9 de março de 2012

22. TRATOR DE ESTEIRA (1)

F
foto 1

foto 2


                                                                             




Há 34 anos comprei um sítio. Meu primeiro sítio. Para alguém que viveu sempre na cidade as lides do campo são todas pura novidade.
O sítio é no sul de Minas, terreno dobrado, subidas e descidas, pouca área plana em uma região onde se planta café, milho e feijão e se cria vacas de leite.
Para começar a vida de agricultor é necessário um galinheiro com poedeiras e também uma vaquinha para o leite, além do cavalo e da charrete. Tudo isso foi feito e agora vamos plantar milho para a bicharada.
De posse das sementes pagamos um trator para arar o terreno. Era um trator simples e o tratorista subia o morro sem arar e descia arando com isso consumindo o dobro de horas. Perguntei se não dava para arar em curva de nível só por perguntar porque naquela pirambeira se tentasse essa empreitada tombava.
Depois da aração choveu. Era época de plantio e também de chuva. O milho foi plantado e adubado. O que nasceu em cima do morro ficou mofino com espigas finas como um charuto. Os de baixo ficaram viçosos. A enxurrada carreara para baixo todo o húmus e o adubo.
Tratores de pneus não servem para terrenos inclinados. Na Itália, Toscana, região dos vinhos chianti, os pequenos proprietários tem tratores agrícolas de esteira.
Tempos atrás estive em uma feira de produtos agrícolas naquela região, onde estavam em demonstração os tratores das fotos acima. O da foto 2 é fabricado pela Lamborghini e custava 29 000 000 liras (U$15000,00). O outro era um pouco mais caro. A vontade de trazer um para o Brasil foi enorme, menor, porém, que a burocracia e os impostos que incidiriam nessa aventura.
Nessa hora pensei: será que no Brasil ninguém fabrica algo parecido? Afinal existem milhões de pequenas propriedades localizadas em regiões como a serra gaucha, a catarinense e também em Minas Gerais. Nesses terrenos acidentados somente um trator agrícola de esteiras. (continua)

quinta-feira, 1 de março de 2012

67. Eucalipto (2)


Foto 1

Foto 2















Ainda sobre o assunto do ataque de fungos (Cryphonectria cubensis) na casca do eucalipto, analisamos varias árvores para saber qual a influencia no ebúrneo e cerne de árvores atacadas por esse fungo. A foto 1 apresenta uma planta atacada levemente. A foto 2 apresenta uma planta severamente impregnada com a cryphonectria.
Derrubada a árvore retiramos a casca e constatamos que até esse nível de ataque dos fungos a doença permanece somente na casca, não havendo prejuízo aparente para o aproveitamento da madeira.
Proximamente verificaremos árvores com ataque bem adiantados de fungos quando se forma protuberâncias, como galhas

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

44. Meio Ambiente (4)

EM FEVEREIRO E MARÇO VAMOS REPRISAR A CADA 15 DIAS ALGUMAS DAS POSTAGENS MAIS ACESSADAS 
 
Foto 1
Foto 2













O Lula presidente, em 2002, nomeou a atual senadora Marina da Silva para o Ministério do Meio Ambiente. Magrinha, mal vestida, semblante de seringalista fez seu discurso de posse. Entre outras coisas disse: “o brasileiro, principalmente o homem do campo, o camponês, precisa saber o que ele pode e o que não pode fazer em termos de meio ambiente”. Nessa hora dei um credito de confiança a nova ministra. Dez anos se passaram e mais passarão e continuaremos a não saber o que se pode fazer. Sabemos somente o que é proibido. Acredito que ela tivesse realmente interessada em resolver o problema, mas estava sozinha.
Os atuais disciplinamentos na tentativa de preservar o que sobrou da exuberante natureza de nossa terra resultaram em legislação confusa, às vezes inexeqüível, e sem a preocupação em orientar, preferindo instituir pesadas multas incompatíveis com o estado de pobreza da maioria dos pequenos proprietários, entre os quais os Sem Terra assentados.
A Marina Silva tinha razão. O homem do campo precisa saber o que ele pode fazer.
Pequenas propriedades, aldeias ou vilas, longe de cidades que dispõem de coleta das sobras das atividades humanas, precisam e devem reciclar seus dejetos no próprio local. Diversamente do que é feito na maioria das cidades brasileiras, a pequena propriedade quase sempre dispõe de uma fossa tipo OMS. As sobras de comida vão para as galinhas e porcos, (cascas de legumes etc.) Restam latas, metais, plásticos, papeis recicláveis e vidro que não devem ser jogados em qualquer parte. O ideal seria que o município incentivasse pessoas ou empresas que percorressem o interior coletando esses materiais, como os antigos “ferro velho” que percorriam as ruas de São Paulo, comprando ossos, vidros, metais etc.
Restam alguns materiais que o bom senso indica que devem ser incinerados no próprio local. O papel higiênico usado, aqueles pedaços de plástico fino sujos de carne ou queijo gorgonzola, rótulos, camisinhas, fraldas de bebê ou geriátricas com cocô, materiais que não se enquadram naqueles recicláveis retro-nomeados e que não devem ser jogados no meio ambiente.
A foto 1 mostra um centro de separação de dejetos. A foto 2 um incinerador. Lembramos que esses procedimentos são específicos para propriedades rurais. Nas cidades todos os dejetos são misturados e jogados no mato ou em cidades maiores em aterros sanitários. Se o pequeno proprietário rural mantiver 20% de sua propriedade com reserva de mata nativa estará pagando, com sobra, todo o CO2 que possa estar produzindo com a incineração de alguns materiais. (continua)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

66. Óleo de capim-limão (1)



Os vegetais são verdadeiros repositórios de óleos aromáticos. Aqueles que têm aroma, os vegetais perfumados, possuem óleos mais ou menos densos que podem se localizar nas flores, nas folhas e muitas vezes na própria madeira. A peroba, madeira muito conhecida é um exemplo de lenho que contem óleo. Há muito tempo esse óleo era retirado através de arraste de vapor e vendido para limpeza, polimento e conservação de móveis. Hoje peroba escasseou e o seu óleo ficou muito caro de maneira que os óleos de peroba vendidos com essa finalidade muitas vezes são óleos minerais.
O sândalo, a canela, o próprio cipreste são madeiras bastante perfumadas de onde se pode extrair óleo aromático. O óleo que aparece na foto acima foi extraído do capim limão (cymbopogon citratus). Seu perfume é penetrante e característico e o rendimento pode chegar a quase 1%


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

65. Alcaparras. Alfobre de Perlita. (14)



Voltamos a comentar sobre a germinação das sementes de alcaparreiras, assunto principal de nosso livro O CULTIVO DE ALCAPARREIRAS. Sucede que não tem sido fácil fazer germinar e, posteriormente, conseguir a sobrevivência das mudas por ocasião do transplante do alfobre para um vaso ou para o local definitivo. Algumas pessoas para os quais enviamos sementes se queixam da dificuldade de fazer tais sementes germinar. Realmente não é fácil e por esse motivo nossa sugestão é, há muito tempo, partir para a divisão celular. Infelizmente nenhum órgão oficial se interessou pela empreitada.
Temos recebido muitas mensagens solicitando sementes e também mudas de alcaparreiras. As mudas que temos conseguido por via sexuada são poucas e temos utilizado para o aumento de nossa lavoura. Entretanto temos enviado, gratuitamente, sementes para aqueles que adquirem nosso livro sobre o assunto e nosso interesse é manter contato com essas pessoas para saber o resultado dessa “empolgante” experiência.
A foto mostra um canteiro feito somente com perlita, mineral de origem vulcânica, inerte, e que se conserva com certa umidade. Escassamente regado inicialmente, após a germinação aportamos pouca água com nutrientes como se usa para a hidroponia. Essas sementes demoraram seis meses (6 meses!) para germinar.




quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

64. Alcaparras (13)



De uma sorte de sementes de mesma origem nasceram várias alcaparreiras todas semelhantes. Uma delas, porém, apresentou=se completamente diferente. Na foto se pode ver em B, à esquerda, uma alcaparreira normal. Em A, à direita, uma planta bastante diferente. Todos os vegetais com origem sexuada, isto é, provindos de sementes (e não de estaquia –clones- ou divisão celular) podem se originar de uma recombinação genética, ou seja, um rearranjo dos genes durante a produção das células germinativas. Outrora o fenômeno poderia ser chamado de mutação, de qualquer maneira chamando de Pedro ou de Antonio o fato é que a Natureza se pode enganar ou probabilisticamente haver um equívoco, responsável pelo surgimento de variedades. Às vezes essas “mutações” podem ter qualidades interessantes e serem usadas pelo agricultor esperto para melhorar as plantas normais.
Como a nova planta é mais vigorosa, tem galhos mais espessos e fortes, pensei em usá-la como porta enxerto, inclusive porque é pouco produtiva em comparação com as plantas normais. Este ano tentei fazer esse enxerto mas não fui feliz. Quem sabe no próximo ano.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

63. Diesel (I)-Biodiesel-



A quase totalidade dos tratores agrícolas existentes no Brasil funcionam com motores a óleo diesel, inventados e patenteados por Rudolf Diesel em 1892! Desde essa data até hoje, nada se inventou que superasse o ciclo diesel para motores estacionários ou para caminhões e tratores. Durante esse tempo, o óleo utilizado tem sido aprimorado a fim de melhorar o desempenho e a durabilidade dos motores. A falta de pureza do cumbustível ou a existência de teores de enxofre maiores do que 10.000 ppm além de diminuir a vida dos motores, leva a um aumento de despesa porque haverá necessidade de trocas de óleo mais frequentes. Os EUA e a Europa, há muito tempo, já superaram o problema e o óleo diesel lá vendido obedece às normas EN590 e ASTM D975. No Brasil infelizmente não! (somente agora, dizem, vão fazer essa experiencia). Vejam o que recomenda uma das fábricas de motores:
1. Recomenda-se uso de combustível com teor de enxofre inferior a 5.000ppm.
2. O uso de diesel com teor de enxofre maior do que 5.000 ppm reduz os intervalos de troca de óleo.
Quando existem empresas estatais manipuladas por políticos pode acontecer toda sorte de disparates tecnológicos e comerciais. O diesel distribuido no Brasil não tem qualidade e, para piorar a situação, inventaram o biodiesel, que se tornou possível graças a um enorme investimento de dinheiro público a fundo perdido. A idéia, em si, de obter um combustível renovável é excelente, mas não a qualquer custo e contribuindo para deteriorar a frota de motores existentes. Combinar sebo de boi com óleo de mamona e outros, processá-los e misturar 2% (pouco?!) ao combalido óleo diesel brasileiro obrigando-nos a usar, sem possibilidade de escolha, (não existe concorrência) é coisa pra doido! Se o trator ficar algum tempo parado a mistura explosiva forma bôrra que entope a bomba injetora. Prejuízo: R$2.000,00.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

62. Lichia (1)


Foto 1 - lichia em flor
                                                                  
                                                                
                                                                  

Foto 2 lichia com frutos


                                                      

                                                           
                                                         
Foto 3 - frutos e caroços












Litchi Chinensis (Lychee nut) ou Lichia, como o nome indica, é originaria da China. Atualmente já está bastante difundida no Brasil e em dezembro, por ocasião das festas de fim de ano, podemos encontrá-las em supermercados e feiras, porém, nessa época, o preço ainda é bastante alto, chegando a R$18,00 o quilo.
A foto nº 1, tirada no mês de setembro de 2011 mostra uma árvore, resultante de semente, com uns 12 anos, em plena floração. A mesma árvore na foto nº2, tirada no início de janeiro de 2012, mostra pencas de frutas maduras na característica cor vermelha. Antes que sirva de alimento a toda espécie de vespas e pássaros, convém fazer a colheita. Após uma semana de colhida, a casca do fruto se torna marrom e fica quebradiça. Entretanto a polpa continua doce e comestível durante algum tempo. Acondicionado em bandejas e cobertas com filme plástico conservam a cor e consistência da casca durante um tempo maior.
A lichia tem uma polpa muito saborosa mas, em geral, em pequena quantidade entre a casca e o enorme caroço. Normalmente quanto maior o fruto maior o caroço. Entretanto nas frutas menores, e excepcionalmente nas maiores, podemos encontrar caroços não desenvolvidos conforme se pode ver na foto nº 3. As frutas onde isso ocorre possuem muito mais polpa. A lichia castiga o pecado da gula uma vez que quem escolhe as maiores frutas come as menores polpas!
É possível que já existam variedades desenvolvidas para produzir somente caroços pequenos e se isso ainda não foi feito está na hora dos acadêmicos se mexerem.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

61. Meio ambiente (11)

Como já foi dito, não será viável fazer valer uma única norma para disciplinar a utilização das terras de todo este imenso país, afinal não podemos comparar uma propriedade na Região Amazônica a uma outra na Serra Gaucha. Por isso aquela região deve ter um tratamento personalizado.
Existem, entretanto, alguns conceitos que independem de onde se localize as propriedades. A proteção de nascentes, córregos e rios, a proteção de manguezais e orlas litorâneas, a proteção de encostas de forte inclinação passiveis de escorregamento de terras e rochas, a proteção de lagos e alagados são assuntos para os quais não pode existir controvérsia. Por isso as Câmaras que legislam para toda a República deveriam se ater ao essencial, às linhas mestras, deixando o detalhamento para cada Estado ou Prefeitura. Alguém poderia dizer: prefeitos e vereadores corruptos, e são muitos, iriam deitar e rolar estabelecendo um balcão de venda à varejo de leis e regulamentos para liberar terras até aquelas das Reservas Legais. E isso irá de fato acontecer se a Polícia e a Justiça continuarem inoperantes por não saberem em que legislação se basear. Nossa esperança é o Ministério Público, mas principalmente a mídia jornalística e televisiva, para conter os abusos. Quando a corrupção não é punida exemplarmente, e às vezes é até incentivada, não há lei que dê jeito.
Esse bendito código que pretende disciplinar o correto uso das terras e águas no país inteiro deveria ser bem sucinto; parágrafos curtos, palavras comuns e idéias claras para que, na seqüência da sua aplicação, não viesse atravancar ainda mais nosso lerdo Poder Judiciário. O texto não pode deixar dúvidas ou possibilitar interpretações.
Obrigatoriamente a lei deverá dizer, claramente, o que o proprietário poderá fazer e não simplesmente estabelecer de maneira hermética as proibições. Uma vez estabelecidas em uma propriedade as áreas de preservação e aquelas necessárias nas margens dos cursos de água etc., em todas as outras o agricultor terá que ter plena liberdade de dispor sem interferência de agentes de nenhum dos numerosos órgãos fiscalizadores. Do jeito como está hoje, o camponês vive sobressaltado com medo de colocar fogo em um pé de urtiga que lhe nasça na porta da cozinha ou cortar guanxuma para fazer vassoura.