ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

60. Meio Ambiente (10)


Na década de 80 eu fazia loteamentos. A legislação prevê que todo o parcelamento de terra urbana deve destinar 20% da área para jardins que, sem dúvida, tem a finalidade de servir como recreio para os moradores, especialmente crianças e velhos, além de amenizar o clima e purificar o ar. Regra geral essas áreas foram deixadas sob a responsabilidade das prefeituras que, na maioria dos casos, por omissão, consentiram que fosse dada outra finalidade aos futuros jardins. Principalmente no litoral, mas também em outros lugares, essas áreas tornaram-se enormes favelas.
A idéia de o estabelecimento humano deixar pelo menos 20% da vegetação em pé para garantir a existência da fauna e flora e preservar minimamente o meio ambiente é muito antiga e de certa forma sempre valeu também para as pequenas ou grandes propriedades rurais. Acresce dizer que charcos, mananciais, pequenas ou grandes nascentes de água devem ter a vegetação preservada sob pena de ficarmos sem água até para beber.
A lei existia e ninguém obedeceu. Pior que isso, o poder público, omisso como sempre, não fiscalizou e o problema assumiu proporções gigantescas cuja solução tornou-se muito difícil. Os clarividentes ambientalistas, às vezes um pouco exagerados, exigem novas normas de âmbito Federal que ponham fim a baderna em que o país está envolvido no que tange a obediência da legislação em vigor e regularize o desmatamento descontrolado na Região Amazônica.
Incumbe essa difícil tarefa às Câmaras Baixa e Alta da República num momento em que uns poucos eleitos distinguem um jequitibá de um pé de couve e tem que contracenar com a maioria inculta também interessada no verde, mas não propriamente aquele da clorofila. Discursos foram muitos, porém sem abordar o assunto com pragmatismo. Aprovar uma lei abrangente para o país inteiro disciplinando o que se pode e o que não se pode fazer em terrenos com declividade de 45°, classificar bananeira como vegetal lenhoso para que populações inteiras que vivem dessa cultura não se tornem miseráveis dependentes do Programa Bolsa Família redundará num fracasso total. Ou não resolverá os problemas mais necessários e pertinentes ou jogará 40 milhões de trabalhadores brasileiros no cesto comum dos fora da lei. (contínua)

sábado, 17 de dezembro de 2011

59. Trator (4) - Financiamento

Trator agrícola





Nas pequenas propriedades do Sul e Sudeste do Brasil, e são muitas, a aração com trator de pneus dificilmente se faz em curvas de nível porque sempre existe o perigo do trator tombar. Em geral fazem a aração somente de cima para baixo, consumindo o dobro de horas. Nas primeiras chuvas as águas correm pelos sulcos carreando os nutrientes e desenvolvendo voçorocas. Além disso, o trator de pneus apiloa a terra.
Na foto vemos um trator agrícola do primeiro mundo. Tratores desse tipo são muito usados na Europa. Trata-se de um trator de pequeno porte, com um motor em torno de 70 Hp, construídos para trabalhar com os implementos agrícolas convencionais, inclusive a lamina frontal, cuja adaptação é mais fácil. Eles têm um centro de gravidade muito baixo tornando o tombamento quase impossível quando usado para arar em curva de nível. Outra qualidade é a baixíssima pressão que exerce sobre o solo devido a área de apoio que são as lagartas. É uma máquina desenvolvida para terrenos muito dobrados.
Na Europa existem no mercado cinco ou seis fabricas que produzem tratores como esses e como resultado da concorrência (e talvez dos impostos menores), o preço de uma jóia idêntica a da foto pode equivaler ao que custa um “dinossauro” à pneus que se vende no Brasil por até R$90.000,00! Resta ao governo apoiar a iniciativa de estabelecer fábricas dessas máquinas no país, ou possibilitar a importação.
Só podemos orar para que apareça algum ministro da agricultura que apóie firmemente a pequena propriedade. Os pequenos proprietários não são responsáveis pela enorme exportação de produtos agrícolas, mas certamente neles reside a força da democracia. 08.12.11

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

58. Trator (3) - Financiamento.


Alguns dias atrás, em decorrência deste blog, recebi um e-mail do qual separo o trecho abaixo:

“Creio que linha de crédito com juro baixo para o produtor rural iniciante inexiste; fomos em busca de crédito pelo Pronaf, mas tem que ter comprovação de 5 anos de atuação e renda. Até questionei o técnico da Emater: o governo abre linha de crédito para manter o homem no campo evitando o êxodo rural; e para aqueles que querem ir para o campo?”

Coincidentemente eu estava tentando financiar um trator. Não sou iniciante uma vez que exerço a atividade há 34 anos, entretanto meu perfil não se adaptava ao exigido para a concessão do financiamento. Os pequenos proprietários em nosso país, diferentemente do que acontece na Europa e EUA, não dispõem de máquinas agrícolas porque são caras e o financiamento bancário é um verdadeiro absurdo, além disso, os tratores pequenos, de até 85 hp, são ultrapassados, verdadeiros dinossauros. Na hora do plantio, após as primeiras chuvas da primavera, todos procuram arar com tratores alugados insuficientes para atender a demanda naquele período.
Para poder arar na hora certa o pequeno proprietário precisa ter seu próprio trator e implementos, ainda que sejam subutilizados. Entretanto, um trator e implementos custam em torno de 145.000 litros de leite! O agricultor não pode pagar os juros dos bancos comerciais que são os maiores juros praticados em todo o mundo, e o governo, através do BNDES, destinou uma linha de credito para melhorar a produção agrícola. A coisa funciona mais ou menos assim: como o BNDES não tem função ou condições de gerenciar diretamente os financiamentos, estes são feitos através dos bancos comerciais que recebem um vultoso numerário pelo qual pagam 3,5% ao ano com carência de um ano e repassam aos agricultores a 6,5%, ganhando, portanto, 3% pelo serviço. Bom não?
Os contratos assinados pelos agricultores, porém, não são muito simples e eu imagino um produtor de leite lendo a fórmula abaixo que poderá se for o caso, alterar o que de mais importante existe na tratativa do contrato, isto é, o interesse.

 
 
 
 
 
 
 

 
Os tratores produzidos no Brasil são exportados e vendidos na Argentina a preços menores que os praticados no Brasil! Isso acontece por que nós pagamos os pesados impostos que recaem em cascata sobre os tratores agrícolas os quais são os verdadeiros geradores da riqueza do país. Esses impostos, por via indireta, vão acabar no BNDES que re-encaminha aos bancos comerciais. Tudo muito racional! (continua)

sábado, 3 de dezembro de 2011

57. Alcaparras (11)

Foto 1

Em meu livro O CULTIVO DE ALCAPARREIRAS contei de maneira poética como é difícil conseguir a germinação de sementes. Mesmo após a eclosão poderá ocorrer que a muda originada venha a murchar e morrer. Inúmeras pessoas que tentaram semear se queixaram da dificuldade em obter a germinação e mesmo quando conseguiam o intento, apesar de todos os cuidados, a pequena muda começava a murchar e secar. Bem, isso pode ocorrer por vários motivos tais como o ataque de fungos, insetos ou vírus, entretanto existe uma causa, inusitada, que deve ser levada em conta.
É importante que a terra usada nos vasos ou mesmo no canteiro definitivo seja muito permeável. Aquela terrinha escura de horta, com húmus de minhoca e super adubada com elementos orgânicos pode se transformar em uma argila impermeável. Nessas condições quando molhamos a plântula de maneira parcimoniosa como é recomendado, a parte superior da terra do vaso ou do local definitivo, parece estar sempre molhado, entretanto o substrato impermeável não deixa o aporte de água chegar às raízes que se aprofundam. A umidade fica somente na superfície e depois de algum tempo o fundo do vaso (ou do canteiro) estará completamente seco. Nessa hora a planta seca e morre.
A foto acima é de uma pequena muda seca de alcaparreira. Vejam o que ocorreu. As raízes começaram a se aprofundar, mas devido à falta de umidade na terra mais profunda, a planta desenvolveu raízes mais superficiais na direção inversa que num verdadeiro hidrotropismo procuraram a umidade vital.
Entretanto o esforço da plântula não resultou e ela veio a óbito.
É preciso que o substrato seja de fato permeável e isso se consegue com um percentual apreciável de areia.