ALCAPARRAS (CAPERS, KAPERN, CÂPRE, CÀPPERO).
O autor responde: sergio.di.petta@cmg.com.br
Envie para o autor suas dúvidas sobre plantio, colheita e cura da alcaparra e o seu uso no preparo dos pratos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

13. ALCAPARRAS (8)



(continuação) A foto acima mostra as sementes secas e fortemente aderidas a sua baga. Retirá-las é tarefa trabalhosa e corremos o risco de inutilizá-las. Parece-me mais conveniente realizar esse trabalho antes que o fruto seque ou seja atacado pelos seus predadores naturais.
O fruto maduro, intumescido, se abre longitudinalmente mostrando as sementes. Nessa hora fazemos a colheita. Em um local limpo e com água corrente separamos, delicadamente, as sementes do restante material e as colocamos para secar.
Como já foi dito, é costume proteger as sementes contra fungos e insetos. Um engenheiro agrônomo poderá indicar a melhor maneira de executar essa tarefa. Em minha experiência utilizei somente sulfato de cobre.
Para finalizar retornemos à temida dormência das sementes. Sabemos que as plantas usam meios engenhosos para garantir a perpetuação da espécie. Não somente querem garantir a próxima geração, mas também as mais distantes. É um mistério. Nosso problema é fazer todas as sementes germinarem já! Talvez deixar as sementes na geladeira ou no freezer dias ou meses, imitando o inverno que passa, possa enganar sua memória. Ou o frio enfraquece o tegumento? Também poderemos ir diretamente ao assunto enfraquecendo a membrana raspando-a, ou como a semente é muito pequena e isso não é prático, vamos misturá-las com minúsculos pedaços de quartzo e chacoalhar durante algumas horas. Se o problema é enfraquecer a película que recobre o embrião porque não fazer uma decapagem química utilizando acido sulfúrico? Não podemos nos esquecer de neutralizar o ácido, depois, utilizando uma base apropriada. Cal serve. Se o ácido puder quebrar essa dormência enfraquecendo o tegumento porque não deixar as sementes no suco do limão que, afinal, é um acido fraco? Quanto tempo? Só a experiência dirá.
Dizem que o oxigênio nascente oriundo da solução de permanganato de potássio tem o condão de quebrar a terrível dormência. Talvez o oxigênio oxide a superfície tegumentar enfraquecendo-a e com isso a dormência se vai. Também a água quente é usada para enfraquecer o tegumento e acordar o embrião. Enfim, fazer passar todas as sementes pelo estomago de alguma ave para que o suco gástrico possa exercer sua função não me parece prático.
Todavia, copiando Baccaro, não será difícil utilizar sementes com dois ou três anos para fugir de toda essa problemática, ou, o que é melhor, multiplicar matrizes produtivas por divisão celular e ainda, o que é mais barato, através de estaquia onde se use alguma tecnologia já existente fazendo enraizar estacas semi lenhosas em leito aquecido de perlita em ambiente asséptico. (final)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

12. ALCAPARRAS (7)


(Continuação). As sementes não são todas iguais, pelo contrario, umas são maiores, outras menores, existem as mal formadas cujo tegumento está ainda mole, e tambem aquelas cujos defeitos poderão dar origem a mutações, etc.. O fruto da planta que vegeta livre em a natureza, tão logo se abre, é atacado por insetos e outros predadores não menos letais, atores no processo da seleção natural. O sol do final do verão seca as bagas onde ficam aderidas as eventuais sementes sobejantes. Esses representantes potenciais de vida terão ainda que sobreviver ao inverno frio e úmido para chegar a tardia primavera quando deveriam despertar aos primeiros raios quentes do sol. Entretanto, ás vezes isso não acontece e a semente sobrevive enterrada por alguns anos! A mão do homem altera os designios da natureza sem entendê-los cabalmente.
A foto acima apresenta um fruto aberto naturalmente. Não foi cortado. Quando maduro ele se abre mostrando as sementes. Um exame acurado mostra que nem todas as sementes estão igualmente desenvolvidas, entretanto, nesse exato momento temos que fazer a colheita não somente para chegar antes dos predadores naturais como tambem para não deixar que os frutos sequem em demasia, o que iria dificultar a separação das semenrtes do meio que as contém. Estamos colhendo, portanto, sementes não selecionadas. Semeá-las seria obter uma germinação pífia, perder tempo e dinheiro. Temos então que selecioná-las, procedimento que o homem aprendeu a fazer há muito tempo. Hoje, através de uma tecnologia de ponta, se consegue entrar no âmago genético dos vegetais, mas no caso de plantas que não têm uma importancia economica exacerbada, basta uma seleção ocular das sementes colhidas embasada na experiência de algum agricultor, seguida de provas de germinação que, para grandes números, têm um valor estatístico aceitável, em outros termos, é importante a certificação do percentual de germinação. É evidente que esse percentual não poderá depender de eventuais dificuldades ocasionadas pela dita dormência. (continua)




quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

11. ALCAPARRAS (6)



(continuação) Existe muita especulação em torno do baixo percentual de germinação de algumas sementes. A primeira delas é culpar a dormência, ou seja, um período durante o qual a semente não germinaria mesmo que oferecidas as condições ideais para a eclosão. Aponta-se como motivo principal o tegumento (cobertura, tégula) muito espesso e duro. Seguramente não é à toa que certas plantas dotam suas sementes de uma membrana mais resistente para proteger os embriões e o estudo desse assunto, se é que já não existe, poderia ser objeto de uma tese de doutorado. Entretanto cremos que um dos motivos para o vegetal adotar esse procedimento é certamente no sentido de assegurar a integridade do embrião durante um tempo maior em climas e habitats adversos. Existem sementes que podem permanecer dormentes por dez anos ou mais! Sementes de vegetais da orla fluvial ou marinha que são lançadas n’água, podem permanecer muito tempo nesse meio, germinando logo que encontrem um “porto seguro”. A semente do flamboyant (Poinciana regia), natural da ilha de Madagascar, possui sementes com membrana espessa e dura por isso se usa escarificar a fim de facilitar e apressar a germinação.
As alcaparreiras são arbustos quase rasteiros que crescem de maneira natural na Bacia do Mediterrâneo. Sem nos atermos a influencia dos tratos culturais oferecidos pelo homem, livre em a natureza, as sementes originadas pelas alcaparras e que conseguem sobreviver aos predadores, permanecem unidas às suas bagas que secam ao sol inclemente do verão Mediterrâneo. Diferentemente dos climas tropicais, no verão Europeu chove pouco. As chuvas mais copiosas estão distribuídas nos meses de outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro quando temos uma média de 12 dias de chuva ao mês. Esses também são os meses frios quando pode nevar. Ora, as sementinhas das alcaparreiras, algumas aderidas às suas bagas, ficarão todo o inverno e parte da primavera em baixas temperaturas, em torno de 2 graus centigrados e com muita umidade. (continua)



sábado, 8 de janeiro de 2011

10. ALCAPARRAS (5)



As sementes poderiam ser descritas com palavras técnicas tais como: embrião, espermatófitas, albume, cotilédone radícula etc., ou também como sendo o resumo das qualidades do ser vegetal, armazenadas em pequenos e resistentes invólucros, que constituem a potencial continuação da espécie que representa. A maioria, não a totalidade dos vegetais, depende das sementes para garantir sua perpetuação e por isso desenvolvem mil estratagemas para que possam sobreviver aos ataques de outros seres vivos e da adversidade ambiental.
As sementes da erva de passarinho (Phoradendron affine Nutt) constituem, com seu envoltório, alimento para os pássaros. Elas não são atacadas pelos sucos gástricos e sobrevivem incólumes sendo semeadas onde quer que os pássaros defequem. Segundo Baccaro, na Itália as formigas às vezes são responsáveis por semear alcaparreiras em locais inusitados. Na foto, feita em Brasópolis, MG, vemos uma formiga atacando o conteúdo da baga onde estão alojadas as sementes. A direita um provável coleóptero disputando alimento.
Em qualquer cultura comercial a multiplicação da espécie considerada é a atividade mais importante e, às vezes, a mais dispendiosa. Como exemplo citamos a oliveira. Uma muda de qualidade em idade de transplante para o lugar definitivo pode custar R$15,00 ou R$20,00.
O cultivo da alcaparreira no Brasil, tendo em vista que somente agora está sendo implementado, esbarra na dificuldade de multiplicação em quantidade para suprir o mercado. Talvez os órgãos estatais devessem preocupar-se em produzir mudas para disseminar a espécie. A multiplicação utilizando sementes tem se mostrado ineficaz devido ao baixíssimo percentual de germinação. Mesmo as sementes importadas da Itália, tratadas com pirimiphos-metil 5%, classe III, e ditane S-60, classe III, certificam somente 60% de germinação e experiências feitas com esse material não resultaram em mais do que 5% de germinação efetiva! (continua)